Atlético
e Cruzeiro se enfrentam num duelo histórico pela final da Copa do Brasil. Espetacular!
Um caminho conquistado por ambas as equipes com muita raça, gana e competência.
O Cruzeiro, para ganhar seu quinto título da competição, terá de impedir o
Atlético de ganhar seu primeiro! Os dois times trilharam um caminho focado e
árduo para merecer essa taça. Os mineiros merecem. O Brasil merece. Hoje o
melhor futebol do país está em Minas Gerais.
charge do amigo @tinecopenido |
O
fato é que Belo Horizonte cresceu e seu suntuoso estádio encolheu. Há pouco
tempo o Mineirão tinha espaço para 120 mil torcedores. Num tempo em que chegar
ao estádio era complicado, mas não um martírio. Estacionar era complicado, mas
não um martírio. Torcer era complicado, mas não um martírio. Entrar no estádio
exigia paciência, mas não um martírio. Num tempo em que se viam bandeiras e
faixas ao longo do anel superior nas arquibancadas. E a torcida inflamava 90
minutos. É que nesta época o torcedor pedia para Deus mais duas gargantas
emprestadas para cantar até o final em alto e bom som. A geral era uma espécie
de amante dos amantes do futebol. Uma briga ali, uma confusão aqui, mas tudo
era contornável e sem maiores delongas. Num tempo onde a polícia militar estava
presente dentro do estádio gerando segurança e promovendo a paz entre os
torcedores. Num tempo em que o Mineirão acolhia e gerava emprego para dezenas
de barraqueiros e ambulantes. Era uma espécie de ecossistema que funcionava e
encantava a todos.
Hoje,
com a capacidade reduzida pela metade, o Mineirão vive apenas de lembranças do
que era realmente um jogo entre Atlético e Cruzeiro. Hoje é quase uma
fotografia. Quem frequentou antes não conseguiria imaginar que, um dia, o clássico
fosse de uma torcida apenas. Quem frequentou antes não conseguiria imaginar que
daríamos um gigantesco passo para trás na festa chamada partida de futebol em
Minas Gerais. Justifica-se uma torcida pela falta de segurança. Mas o público
hoje é três vezes menor que há dois anos! Vai entender...
Às
vezes, quando passo pela Pampulha e não é dia de jogo, paro o carro e fico
observando o sono do estádio. Vejo o Mineirão sonhando e suspirando essa época
de ouro. Ele tem sentimentos. Ele sente saudades. Já vi num desses sonhos ele até mesmo dar
risadas. Talvez sejam as cócegas que a bagunça de torcedores do Galo e Raposa
faziam nele ao pular freneticamente em suas trêmulas arquibancadas. Sim, porque
o contato era de pele, no cimento, não havia sequer cadeiras. Era o torcedor e
o estádio!
Hoje
para se chegar ao Mineirão com um terço de sua capacidade antiga (como foi
Atlético e Flamengo) você passa raiva e sufoco. Infelizmente o Atlético mandará
sua partida da final no Independência. Torcida do Galo reduzida em um terço,
uma vez que no Horto cabem apenas 22 mil torcedores. O Cruzeiro mandará seu
jogo no Mineirão, partida essa que será a épica decisão. Ambos os jogos com torcida
praticamente única, podendo ter a cota de 10% para o visitante. Lamentável. Ou
temos competência e decência para se fazer como antes ou, provada nossa
regressão social e de organização, que seja mesmo torcida única. E o singelo
preço das finais: 200 reais o ingresso mais barato.
As
finais da Copa do Brasil 2014 serão marcadas por serem inéditas e com o
principal clássico regional do país. Mas perdemos a oportunidade do exercício
da cidadania, da paz e da confraternização, do respeito e da esportividade.
Quem
sabe ainda irão conseguir acordar o Mineirão deste pesadelo e deixar que ele
possa se inspirar e voltar a sonhar!
Enfim,
de tudo isso só temos a boa certeza: a Copa do Brasil é mineira!