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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

"BH na PAZ"

Em outubro, a Associação Arte Pela Paz realizou o envento "BH na PAZ". Além de vários shows e manifestações artítsticas, diversos artistas e personalidades passaram pelo palco gigantesco construído sob os ares da bela Praça da Estação. Entre os convidados do dia, o BH na PAZ contou com a ilustre presença do vice-governador do Estado de Minas Gerais, Antônio Augusto Anastasia.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Carta à Mãe Serra

Flávio Domênico

Daqui, fitando teu manto verde, procuro imaginar o tempo em que tu eras impoluta e verdadeiramente exuberante. Não diria uma virgem intocável, mas, preservada do funesto animal que assolara tua vida.

Na linha de um longo tempo ofereceste abrigo, sem cobrar sequer um ombro amigo. Com tua formosura embelezaste a vista de todos, sem perceber que a cegueira dos que contemplavam-te macularia tua imagem.

O sangue quente que corre nas veias, o mesmo que dá a vida, compilou friamente argumentos para abusar de tua dádiva. Foste a primeira a gritar por amparo, mas a lânguida surdez dos que conheciam-te esmorecera tua voz. Vieram as máquinas e destituíram-te de vez do cargo de maestrina de uma sinfonia natural que encantava os ouvidos. Deram lugar ao som bizarro de motores insanos que devastaram teu corpo sedento por justiça.

Daqui, fitando teu manto verde, imagino as noites de agonia, tua sofreguidão desejando o dia. Feriram-te nas entranhas e foram desafiadas as leis que podiam impedir tua degradação. Fizeram com que todos acreditassem que esse mal era necessário. Foste consorte do senhor progresso e por ele abusada à revelia. Tua redenção tornou-se devaneio de uma minoria, sufocada pela coragem tardia. Teu nome um homônimo de tua ruína. A mesma serra usada para referir-te, ceifara o verde de teu seio e, de um curral de cultura, brotou a ignorância de uma geração futura.

Um dia Curral outrora Serra, o certo é que teu abraço nos cerca. Talvez, tua imagem, hoje símbolo eleito de uma cidade, seja o reflexo de uma história que escreve o descaso de uma prole soberba e ao mesmo tempo faminta por um bem estar.

Reverência mãe Serra do Curral, que, contudo ainda me abraça. Hoje minhas lágrimas são incapazes de fertilizar teu colo seco e dilacerado. Volto meus olhos a ti e, incapaz, peço desculpas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Exclusivo para o Bloguim


Mulher cai no “golpe do bilhete premiado”

Vítima perde R$9 mil reais após ser abordada por dois homens
no bairro Ouro Preto, região da Pampulha em Belo Horizonte
Flávio Domênico

Na última quarta-feira, a pensionista Maria das Graças*, 61 anos, entrou para a lista das vítimas do velho golpe do bilhete premiado. A história é sempre a mesma: o golpista se passa por uma pessoa do interior e pede ajuda a uma pessoa para receber o prêmio de loteria. Auxiliado por um comparsa, ele induz alguém a acreditar que, caso o ajude, receberá recompensa, mas para isso terá de sacar um determinado valor em dinheiro como garantia.

O crime ocorreu nas proximidades da movimentada avenida Conceição do Mato Dentro, no bairro Ouro Preto, região da Pampulha em Belo Horizonte. Pela manhã, ao sair de um supermercado, Maria das Graças foi abordada por um idoso. "Ele disse que estava passando mal e pediu para que eu o ajudasse", relata a pensionista. Ela conta que de repente um carro se aproximou e outro homem de aparência mais jovem também se prontificou ajudar. O idoso disse que era do interior, havia ganhado um premio de 12 milhões na Mega Sena e estava precisando de ajuda para receber o dinheiro.

Neste momento entra em cena o motorista (comparsa). Ele ofereceu para levar o homem numa agência lotérica a fim de conferir se o bilhete realmente estava premiado. A vítima, dentro do carro, ouviu promessas do idoso que prometeu dar 10% do valor do prêmio ao dois. Contudo, para que ele confiasse na ajuda, cada um deveria lhe dar como garantia 10 mil reais. O motorista entrou na casa lotérica e voltou eufórico dizendo que o bilhete era mesmo premiado, disse que estava disposto a entrar no negócio e mostrou uma mala cheia de dinheiro, inclusive com dólares entre as notas.

Confiando na promessa do prêmio, Maria das Graças pediu ao motorista que a levasse até uma agência do Banco Itaú no bairro Ouro Preto, sacou de seu cheque especial a quantia de 9.700 reais e entregou ao idoso. “Após o saque, ele pediu para que eu conseguisse na agência um copo com água. Pedi então que ele segurasse por instantes o dinheiro e meus documentos. Quando voltei ele havia sumido juntamente com o motorista”, relata a pensionista.

Maria das Graças não comunicou o fato à polícia. Uma de suas filhas, Ana Luiza*, disse que a mãe iria à delegacia para fazer o boletim de ocorrência.
*nomes fictícios

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Crônica

O anjinho preto

por Flávio Domênico
*em memória do meu querido e saudoso amigo Márcio Bispo

Se existe anjo aqui na terra? Claro que existe. Eu conheci um.
Era alto, de pele negra, magro, meio desengonçado. Bom filho, amigo e irmão. Tinha até namorada! Suas asas se escondiam por debaixo de seus enormes braços. Sua fala era por vezes meio que embolada, mas ele era um grande comunicador. Seus olhos tinham as íris mais negras que os meus já fitaram. Seu sorriso era pouco, mas irradiava amor e sua feição, acolhedora. Ele era um mistério, mas nunca seria desvendado, foi enviado para ser simplesmente um anjo.

Essa espécie de anjo, que por essência, é amor, precisa ser descoberta. É difícil conseguir, mas dá. Tenho algumas dicas: não são como humanos, que vivem por aí rudes, secos, preocupados, sem tempo, reclamões ou emburrados. Ao contrário, estão dispostos a viver. Não se encaixam em estereótipos criados pelo sistema, mas, voam por cima desses castelos de areia que se desmancham com o tempo.

As vezes, eu me deparava contemplando esse seu misterioso mundo ímpar. Seu jeito pensativo (ou será que estava se comunicando com Deus?). Escutava seu choro comovido por situações diversas, que, em alguns momentos me tocaram. A sinceridade nas palavras, que por vezes pareciam duras.

Como conviver com um anjo sem saber que é anjo? Esse foi meu dilema por dois anos. Até porque esse anjo era abusado. Queria ser poeta, locutor, ator, músico e, imaginem, queria até se casar.

Com o tempo consegui sentir seus vôos rasantes em minha vida. Pude sentir de perto o que é um amor puro, sem amarras. Tenho saudade de sua voz, do seu olhar, do seu jeito de simples de ser anjo por excelência.

Em sua passagem pela minha vida, só houve um problema: Deus, em sua infinita sabedoria, o chamou de volta para casa. O anjinho preto se foi e, até hoje, posso sentir o vento de suas asas, que, um dia, secaram minhas lágrimas de porquês.