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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Surge uma nova cor: Verde Chape

@flaviodomenico

Somos apaixonados por futebol. Somos apaixonados pela vida. Somos apaixonados pela festa, pela alegria, pelos gols, pelos lances mágicos que nos transportam. Somos apaixonados pelas barriquinhas, pelas resenhas, pela cerveja, o churrasquinho. E fato: somos apaixonados por cada concreto do estádio. Somos brasileiros apaixonados pelo esporte da bolinha jogada com os pés.

Na manhã desta terça-feira, quando abrimos os olhos para o novo dia, já sentindo um clima de véspera de quarta futebolística, essa paixão deu lugar a um sentimento de dor. Uma dor silenciosa e arredia. Uma dor que agora é perene.

Belo Horizonte neste momento está chuvosa. É como se o céu chorasse conosco um dia sofrido. Uma chuva para recompor quem sabe as lágrimas ou, até mesmo, derramá-las de uma só vez. Em consonância, as telas modernas pintam a cena da Arena Condé lotada. De torcedores gritando, aplaudindo, empunhando bandeiras. As crianças também estão lá. Agora, neste momento! O mesmo canto, a mesma paixão, a mesma alegria.

Mas há um detalhe: desta vez o gramado está vazio. Não há chuteiras, não há dribles, não há apito e, o único impedimento é vê-los de novo. Não há imprensa. Não há bola! Numa cruel agonia vai se findando esse eterno dia...

Chapecó, Santa Catarina; Santa Chapecoense, Santa Chape! Nossos olhos marejados se achegam ao sono desta noite. Vão insistindo em ficar abertos para olhar também por vocês e como vocês. Estamos unidos na dor. Estivemos na alegria que por vezes é tão fatiada neste mundo do futebol. Neste momento não há atleta, pobre, rico, preto, branco, jornalista, dirigente; neste momento há milhões de corações brasileiros batendo no mesmo compasso. No compasso de uma profunda tristeza.

O futebol veio de sua pequenina importância nos ensinar que dentro das quatro linhas, quando o juiz apita, não há espaço para morte. Não há espaço para brigas imbecis. Não há espaço para divisão. Há sim muita vida dentro e fora de campo. A partir de hoje, quem sabe essa dor imensa nos ensine a ser feliz novamente com o futebol! A colorir de verde chape nossos uniformes, nossas bandeiras, nossos corações. Aprender com o verde chape a respeitar e admirar nosso próximo. Que sabe o futebol venhas a ser novamente simplesmente futebol.

Nosso carinho, nossas orações, às vítimas desta tragédia aérea no voo da destemida equipe da Chapecoense. Aos que se foram, nossa gratidão e saudade! Ficamos por aqui com a promessa que, daqui, tentaremos ser muito, mas muito melhores que ontem...

sábado, 26 de novembro de 2016

A demissão que sugere inovação

*twitter: @flaviodomenico

Há algum tempo escrevi  sobre a importância do técnico neste momento atual do futebol brasileiro (A Safra é fraca – setembro de 2014).  A escassez de bons jogadores, craques e até mesmo o desaparecimento dos gênios levaria o mundo do futebol a exigir mais do grupo e menos do individual. Mais trabalho do comandante à beira do campo, do técnico.

Foi-se o tempo onde havia 5 ou 6 atletas de alto nível num mesmo grupo. Hoje, o comprometimento da equipe, a obediência do jogador e a visão apurada do treinador tende a fazer a diferença na hora das conquistas.

O trabalho do treinador é sim de tamanha importância para organização e gerenciamento do time durante uma partida e, sobretudo, numa campanha rumo ao título. Contudo, o treinador não é a alma do time. Não é o motor e a essência das jogadas. Tal fato se deve ao clube de futebol e aos jogadores que vestem a camisa deste time. Quando o treinador chega não irá representar sua filosofia de trabalho, mas a de um clube e de sua história.

A demissão do técnico Marcelo Oliveira nos abre uma série de questionamentos sobre o papel dele no Atlético. Vamos a algumas afirmações: não havia padrão de jogo, não havia jogada ensaiada, time não era compacto em campo, jogadores muito distantes nos setores (defesa, meio, ataque), escalação e algumas substituições sempre óbvias, que quase sempre não surtiam efeitos estratégicos no jogo. E é bom lembrar que futebol ainda é um jogo!

Centralizar então a culpa de um possível ano sem conquistas (caso o Galo não vença a Copa do Brasil no jogo de volta em Porto Alegre) no Marcelo Oliveira é correto?!

Definitivamente não. Embora as afirmações citadas acima sejam verdadeiras seria muita comodidade entregar um pacote de culpas nas mãos do técnico e mandá-lo embora. E se isso fosse a solução, o ex-técnico atleticano não estaria até o primeiro jogo da final da Copa do Brasil no comando. Já teria sido demitido no meio do ano e o Galo procuraria dentro do mesmo ano seu 3º comandante.

Pensemos nos times da Europa. Pensemos no Barcelona. Hoje, desde o infantil até o profissional, a filosofia de jogo é a mesma. Há um trabalho forte e sério na base. Há um padrão. Treinamento de um estilo de jogo implantado fortemente por Cruyff a partir de 1988.

O técnico, que já havia construído uma história no clube como jogador, colheu frutos espetaculares de seu trabalho e comandou o Barça por 9 anos. Ele tinha o apoio da diretoria, da torcida e dos jogadores. Nesta época Pep Guardiola e Romário faziam parte do time.

Já está na hora, não só do Atlético, que possui uma invejável estrutura física, a melhor do Brasil, evoluir. O futebol brasileiro precisa acordar para um gerenciamento melhor de um esporte que tem perdido aos poucos o encanto e tem se tornado um mero negócio mal gerido.


Com a demissão (tardia e/ou talvez precipitada) de Marcelo Oliveira, o clube e os jogadores, simbolicamente, também foram demitidos. Mesmo restando a esperança do título, o Atlético precisa renovar e, principalmente, inovar. Lembrando que inovar não é inventar a lâmpada mas, encontrar novas possibilidades de se fazer algo, sair da mesmice. Sair do “sempre do mesmo jeito”.