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sábado, 8 de novembro de 2014

A Copa do Brasil é mineira!

Atlético e Cruzeiro se enfrentam num duelo histórico pela final da Copa do Brasil. Espetacular! Um caminho conquistado por ambas as equipes com muita raça, gana e competência. O Cruzeiro, para ganhar seu quinto título da competição, terá de impedir o Atlético de ganhar seu primeiro! Os dois times trilharam um caminho focado e árduo para merecer essa taça. Os mineiros merecem. O Brasil merece. Hoje o melhor futebol do país está em Minas Gerais.

charge do amigo 
A chance da inédita final mineira da Copa do Brasil poderia ter servido de exemplo para o Brasil das torcidas de futebol. Poderia.

O fato é que Belo Horizonte cresceu e seu suntuoso estádio encolheu. Há pouco tempo o Mineirão tinha espaço para 120 mil torcedores. Num tempo em que chegar ao estádio era complicado, mas não um martírio. Estacionar era complicado, mas não um martírio. Torcer era complicado, mas não um martírio. Entrar no estádio exigia paciência, mas não um martírio. Num tempo em que se viam bandeiras e faixas ao longo do anel superior nas arquibancadas. E a torcida inflamava 90 minutos. É que nesta época o torcedor pedia para Deus mais duas gargantas emprestadas para cantar até o final em alto e bom som. A geral era uma espécie de amante dos amantes do futebol. Uma briga ali, uma confusão aqui, mas tudo era contornável e sem maiores delongas. Num tempo onde a polícia militar estava presente dentro do estádio gerando segurança e promovendo a paz entre os torcedores. Num tempo em que o Mineirão acolhia e gerava emprego para dezenas de barraqueiros e ambulantes. Era uma espécie de ecossistema que funcionava e encantava a todos.

Hoje, com a capacidade reduzida pela metade, o Mineirão vive apenas de lembranças do que era realmente um jogo entre Atlético e Cruzeiro. Hoje é quase uma fotografia. Quem frequentou antes não conseguiria imaginar que, um dia, o clássico fosse de uma torcida apenas. Quem frequentou antes não conseguiria imaginar que daríamos um gigantesco passo para trás na festa chamada partida de futebol em Minas Gerais. Justifica-se uma torcida pela falta de segurança. Mas o público hoje é três vezes menor que há dois anos! Vai entender...

Às vezes, quando passo pela Pampulha e não é dia de jogo, paro o carro e fico observando o sono do estádio. Vejo o Mineirão sonhando e suspirando essa época de ouro. Ele tem sentimentos. Ele sente saudades.  Já vi num desses sonhos ele até mesmo dar risadas. Talvez sejam as cócegas que a bagunça de torcedores do Galo e Raposa faziam nele ao pular freneticamente em suas trêmulas arquibancadas. Sim, porque o contato era de pele, no cimento, não havia sequer cadeiras. Era o torcedor e o estádio!

Hoje para se chegar ao Mineirão com um terço de sua capacidade antiga (como foi Atlético e Flamengo) você passa raiva e sufoco. Infelizmente o Atlético mandará sua partida da final no Independência. Torcida do Galo reduzida em um terço, uma vez que no Horto cabem apenas 22 mil torcedores. O Cruzeiro mandará seu jogo no Mineirão, partida essa que será a épica decisão. Ambos os jogos com torcida praticamente única, podendo ter a cota de 10% para o visitante. Lamentável. Ou temos competência e decência para se fazer como antes ou, provada nossa regressão social e de organização, que seja mesmo torcida única. E o singelo preço das finais: 200 reais o ingresso mais barato.

As finais da Copa do Brasil 2014 serão marcadas por serem inéditas e com o principal clássico regional do país. Mas perdemos a oportunidade do exercício da cidadania, da paz e da confraternização, do respeito e da esportividade.
Quem sabe ainda irão conseguir acordar o Mineirão deste pesadelo e deixar que ele possa se inspirar e voltar a sonhar!

Enfim, de tudo isso só temos a boa certeza: a Copa do Brasil é mineira!