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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Véspera

flávio domênico de araújo

Água inundou,
lágrima secou.
Ouviram tanta promessa,
agora, vida que regressa.

Sob um olhar indiferente,
se esfacela a vida dessa gente.
Mata-se rios,
cria-se ninhos.
De cobra, de serpente,
uma capciosa corja ardente.
Sob um monte de canalhas,
dispostos a cortes de navalhas,
celebram-se atos tardios,
fabricam-se protetores arredios,
que se esmeram em frases,
que se dizem de seu atos ases!

Perene sofrimento chamado peleja,
custoso sonho que se almeja.
Fardo que vira fato,
dor imensa, sem fim.
Vida construída,
história destruída.
Manchete de folhetim.

Parece que nada importa.
Cessam-se os sonhos,
serram-se as portas para enchente,
quanto choro se ouve desta gente.

Era a espera do dia primeiro,
do bouquet ao espinheiro.
Achega-se a noite,
dorme-se sob um açoite.
Acorda-se com uma fé remota,
uma agonia que se nota.

Era para ser festa,
era celebração,
o que viu-se por um fresta:
uma véspera de sofreguidão.