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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Pitacos Navegantes

Senhora saudade
Uma comunidade pobre de São Paulo sofreu hoje com seus barracos em labaredas de fogo. Barracos de madeira e extremamente frágeis. Mas foram barracos de esperança e de aconchego. Barracos de promessas e famílias. Barracos à margem da vida imperial, da vida real, da vida insana e luxuosa do vil metal.
Barracos que nos remetem a um mundo comandado por divisores que causam discórdia e cultuam o individual. Que incitam a cultura do "eu posso", "eu faço", "eu vou vencer". Que desfilam diariamente suas torres e cavalos luxuosos.
De repente uma senhora, com o barraco (de madeira já em cinzas), decidiu ser gentil com o repórter da TV e lhe conceder a oportunidade de entrevistá-la.
Assim, com olhos marejados, ela olha para o que restou de algo que era chamado de lar e diz assim:
"Eu queria apenas poder entrar lá dentro, sinto saudade, de entrar lá dentro de minha casa" - diz a senhora fitando o que não restou de seu barraco de madeira.
Imaginei que uma senhora que morava numa favela, numa casa feita de ripas de madeiras e pregos, sentia saudade de seu lar.
Como ela consegue lembrar com tanto carinho de um barroco de madeira tão simples e precário? Lembrei de um compositor amigo,Nelsinho Corrêa, que diz em uma música:
"Só se tem saudade do que é bom,
Se chorei de saudade não foi por fraqueza,
Foi porque amei".
O amor daquela senhora era tão puro e tão simples, tão real, tão livre de amarras e estereótipos, tão amor...
É irreversível nossa imbecilidade e nosso egoísmo humano. E não mudará. É mais fácil ser assim do que ter laços de amor. Porque é mais cômodo cultuar o que se vomita nesta escola de ostentação e poder do que partilhar. Do que promover o outro é proporcionar a ele uma oportunidade de viver em paz.
Não conheço essa senhora e, provavelmente, não vou conhecer. Mas agradeço por ela ter sido nesses poucos minutos minha professora. Por me fazer desacelerar, olhar para o que tenho e agradecer.
Ficarei contudo atento! É que talvez quando eu abrir minha janela ela esteja logo ali.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

O Galo e o futebol na era dos culpados!

Caro amiga e amigo, não é de hoje que procuramos culpar alguém ou algo em resultados negativos no futebol. É secular. No começo era a bola, a chuteira, o uniforme, o cronômetro e o tempo. O sol, a lua, o técnico e até o jogador. Depois, por mais paradoxo que pareça, alguém que está no esporte para julgar e avaliar os lances tornou-se o pecador mor: o juiz. Seguido de seus pais e dos respectivos assistentes, o juiz de futebol carregou por anos a fama de ser um dos principais vilões da glória futebolística!

Mas a culpa evoluiu mais do que a própria qualidade neste jogo ao longo das décadas. Por vezes até mesmo a imprensa leva o dolo. O torcedor também é apontado como o culpado!

Culpa! Culpado! Culpe-se.

Talvez, o certo seria delatar o próprio jogo pelas derrotas e tropeços. Mesmo que num eventual e monótono empate! Mas não. Não é o suficiente. Alguém é acusado por perder e conseqüentemente prorrogar, além dos 90 minutos, o grito de campeão de um clube.

No Galo, em 2012-2013, a efêmera e marcante era do estilo mágico de jogar conduzido por Cuca, Ronaldinho Gaúcho, Tardelli, Bernard e demais jogadores, trouxe a glória!
Na seqüência, o Atlético fez uma breve dança dos técnicos. Primeiro Autuori chegou e não teve autoridade suficiente. Levir chegou e ganhou a Copa do Brasil. Mas Culpi ressuscitaria a culpa. Depois se apostou em Aguirre, mas, o time não foi aguerrido o suficiente

Marcelo Oliveira e, com ele um elenco dito como qualificado. Mas o técnico, até o momento, embora ocupe o 3º lugar no Brasileirão, ainda não conseguiu dar um padrão de jogo convincente ao Atlético.  Porém, vem sobrevivendo entre lampejos e contusões. Inegável que seu trabalho vem gerando resultado. E olha a culpa: o resultado é dele, dos jogadores ou dos dois? Tudo tem que ter um culpado no mundo da bola!

A estrutura é impecável, a torcida é apaixonada, o técnico é bicampeão da competição e boa parte do elenco é qualificada tecnicamente. Então a culpa é de quem? Essa vem sendo a tônica dos comentários num geral. Seria das lesões, das ausências, do técnico, do juiz, da apatia?

Talvez o melhor seja bater tudo isso num liquidificador e parar de pensar tanto na culpa.  Tentar chegar numa solução. Inclusive pensar o resgate do futebol brasileiro.

O Atlético se apresenta em campo, dado ao elenco que possui, entre a tênue linha da evolução e o irritante cenário de ser fazer apenas o trivial nos jogos. Um último fato: não é exclusividade do Galo esse cenário.

Assim, de todos os citados neste texto, aquele que não for o culpado pelo futebol brasileiro estar neste nível, que atire a primeira bola!


Temo pela escassez de bola...