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sábado, 24 de maio de 2014

A vida como ela não é...

Flávio Domênico
Fim dos trabalhos no Memorial Minas Vale. Cumprimentos pelo evento. Fotos e aplausos. Desço as suntuosas escadas em meio à muita informação. Estudantes para todos os lados. Que bom!
De repente sinto o cheiro de terra. Sinto cheiro da imagem, do clique preciso. De repente estou numa galeria com fotos de Sebastião Salgado.

Salgado mostrando o lado não tão doce da vida. Salgado sendo sal da terra e sua câmera aproveitando a luz do mundo. São muitos os registros. Mas fui aprisionado por um. Fiquei por aproximadamente dez minutos contemplando a imagem.
Um deserto, uma mãe, dois filhos nus, uma mãe, o sol, uma mãe, a caminhada, uma mãe, a peleja, uma mãe
.
Registrei a foto para eu lembrar em casa. Jamais cometeria o infortúnio de publicá-la porcamente aqui. Respeito. Jamais conseguirei colocar em letras o que vi naquela imagem.
Mas vi a vida sendo vida. Mas vi a vida sendo ceifada. Mas vi a vida sendo querida. Mas vi a vida sendo sofrida. Mas vi a vida almejando viver.

Então me recolho em minha pequinês. Desfiz de minhas construções e juntei os meus tijolos. Aquela imagem, em seu silêncio, gritou em meus ouvidos.
Vivemos a vida como ela não é. Acredite.
Silêncio e um liquidificador de sentimentos me levaram pelo caminho de volta.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A COPA (I)

Convocação feita. Lista pronta. Eles foram chamados por mérito, lobby, indicação, exigência, enfim, os atletas estão definidos. A "festa" está pronta. Há anos,se a Copa do Mundo de Futebol FIFA fosse aqui no Brasil, talvez em 1982, eu não dormiria mais a partir de agora de tanta ansiedade. Em 86 também não. Passaria meus tempos livres nas quadras do Conjunto IAPI jogando "pelada" e sonhando em ser jogador. Tentaria como um louco completar meu álbum ping pong de figurinhas e lamentando o Reinaldo fora da convocação final.

Mas o tempo passou. Muita coisa mudou. Muita coisa, contudo, evoluiu também no mundo do futebol. Do esporte. Na Europa, por exemplo. Talvez nem tanto aqui no Brasil. Nos países subdesenvolvidos. Por aqui o povo cada vez mais passivo e observador acompanhou a decisão há anos que o país seria a sede da FIFA. 

Nada ocorreu. Continuou-se a vida. E começou a corrida em busca da Copa novamente em solo brasileiro. Muitos absurdos inexplicáveis aconteceram. Investimentos colossais em estádios pelos brasis afora. Dinheiro público, privado, enfim, uma vitamina de investimentos. Aos trancos e barrancos a coisa ficou pronta. Sim...ficou.

Mas,se de um lado a copa traz uma certa alegria ao país do futebol, por outro revela o lado negro da sociedade canarinho. Os hospitais continuam ruins. As escolas públicas ruins e as particulares caríssimas! Falta saneamento básico. Falta emprego e salário de qualidade. Falta gente para gerir os bens e recursos públicos. Falta cuidar das crianças de Pelé. Falta honestidade. Falta vontade política e também vontade da sociedade. Falta amor. Falta caridade. Falta não fazer a falta.
É tanta falta que já sairia no começo do jogo um cartão vermelho para o Brasil. (continua...)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

A Culpi é de quem?

Flávio Domênico

Os quarenta e cinco minutos iniciais do Atlético contra o Nacional da Colômbia foram diferentes? Sim! Mas apenas num ponto: o Galo adiantou a marcação. Levir não teve tempo. Manteve, assim como Autuori, o antigo esquema de jogo do elenco. Havia indícios que a exaurida “tática Cuca” poderia surtir ainda algum efeito. E, numa espécie de lampejo, Fernandinho acertou um belo chute e o Galo marcava seu primeiro gol na partida. O preto e branco se revestia de verde, de esperança.

Vestiário. Intervalo que costuma ser renovador. Mas não foi. Veio o segundo tempo e o time caiu drasticamente de produção. Passando indícios até mesmo de uma possível falta de preparo físico dos jogadores. Levir tinha poucas cartas agudas na manga para alteração. Mas, se Autuori parecia não treinar e não conhecer de futebol, Levir ontem mostrou que não conhecia bem o atual elenco do Atlético. Não foi feliz em suas mudanças.

As alterações foram ruins e houve algo que considero pior: o improviso. A entrada de Réver no lugar de Pierre foi um erro fatal. Atleta fora de forma, de ritmo e fora de sua posição. Não. Réver não é um bom volante e não atua nesta posição. Estava determinado o improviso. Se a mudança era tirar Pierre, Culpi tinha Rosinei. O volante estava relacionado, estava no banco. Leva-me a entender que, se está no banco, é porque tem condições de jogo. Improviso por improviso, o técnico atleticano poderia poupar o garoto Alex Silva, que não estava bem, colocando Réver então em seu lugar e deslocando Otamendi para lateral direita.

Ronaldinho mais uma vez não rendeu. Tardelli também não. Guilherme numa oportunidade clara de gol deu o toque a mais e errou. Jô também não se acertou. O lateral Emerson Conceição ainda não mostrou absolutamente nada que justifique sua contratação. Os volantes errando na saída e no passe. Laterais que não apoiam e são deficientes em marcar. Resultado é a sobrecarga na zaga e no espetacular goleiro Victor.

A desclassificação no fim do jogo para os colombianos foi amarga. Preço alto que o Galo pagou por quatro meses de um trabalho mal executado e mal planejado. Kalil passou por mim triste e cabisbaixo. Mas o presidente não era o único decepcionado. A torcida também estava assustada. O time dos sonhos se tornara um pesadelo. A alegria ontem deu lugar à tristeza. Kalil é o presidente que conquistou a Libertadores. Não podemos apagar tal feito extraordinário desta diretoria. Mas a vida esportiva segue e uma instituição de futebol não é um museu.


O Atlético deve ligar o alerta para seguir em frente nas outras competições. Chegou o tempo para o técnico Levir. O duradouro esquema de Cuca foi vencedor, mas, o prazo de validade está vencido. Que venha agora algo estudado e pensado. Motivação apenas é pouco. Infelizmente é a hora de voltar à estaca zero no Galo. Pensar um novo 2014. Que venham as boas mudanças. Que volte o futebol.