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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

PITACOS NAVEGANTES

O tempo à revelia

O fim de 2015 vem sendo desejado por muitos. Um ano lamacento e sangrento para o mundo. Não precisamos recordar aqui as tragédias e os acontecimentos malignos que, se distanciam de nós, apenas pelo passar das horas.
foto: Flávio Domênico
Fato é que estamos condicionados a desperdiçar nosso precioso tempo. Ainda temos 48 horas para viver neste ano e queremos que esse tempo simplesmente passe. É como se estivéssemos dando nosso coração para o acaso. Desperdiçando 48 horas. Quanta coisa podemos fazer nesses dois dias que findam o ano de 2015?
Emocionado, descobri que, 2016 será realmente diferente: o 5 será substituído pela 6! Essa é a diferença real do ano que ainda não acabou para o que ainda está por vir
.
É que estamos condicionados a pensar pequeno. A pensar apenas na nossa sobrevivência. E realmente dois dias para quem está apenas sobrevivendo é muito. Sobra. Assusta.
Precisamos pensar melhor nossas horas. Nosso tempo. Talvez haja tempo do tempo nos dar um tempo maior para termos mais tempo daqui para frente. Tempo...ah o tempo...
Seja em 2016, seja em 2036, vamos tentar ter tempo para viver e, se possível, AMAR.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

PITACOS NAVEGANTES - Dezembro de 2015

A carta que "Caminha" para trás

Ele avistou o verde, amarelo, azul e branco. Era escrivão de Cabral. Tempos e mais tempos à toa no mar. Cabeça pronta para pensar. Pena e tinta ávidas por um ofício, por um trabalho. Talvez o senhor Pero Vaz estivesse cansado de ver tanta água!
A suposta descoberta do Brasil começou sob os olhares dos destemidos marinheiros portugueses. Agora, 515 anos depois, o barco está à deriva. Não navega mais devido a tanta lama no Atlântico. O barco agora, como num passe de mágica, caminha! Continua se movimentado, "Pero Caminha" para trás.
Os europeus chamavam aqui de "Novo Mundo". Hoje, se escrevessem uma nova carta como a de Vaz, eles chamariam de "Novo Mundo Estragado". Talvez tenham pensado quando desembarcaram por aqui: “ohhh, que belo! Um lugar fácil para a gente explorar, escravizar e contar por séculos vil metal em nossos castelos”.
Ou será que pensaram: “ohhh! Que belo lugarejo! Vamos trazer nossas famílias, povoar esse lugar lindo e criar uma nova sociedade, com uma economia forte, igualitária e fraterna. Vamos aproveitar os nativos como aliados! Faremos um brainstorming e um benchmarking com eles".
Fato é que de 1500 até 1822 (independência) passaram-se 393 anos! Durante todo este tempo o Brasil foi apenas explorado e escravizado. Tornou-se um celeiro de experiências políticas, sociais e econômicas desastrosas. O desenvolvimento e o bem do povo nativo eram secundários. Eram?
A partir do "grito do Ipiranga" temos singelos 193 anos de liberdade e independência. Esse é o tempo até aqui para se reconstruir o sistema de exploração e escravização que assolou o brasileiro. Sob os efeitos aprazíveis da carta de Caminha navegamos em 2015 com nota “sem”! Brasil sem pudor, sem ética, sem educação; Brasil sem saúde, sem paz, sem economia, sem verdade; Brasil sem esperança, sem escola, sem honestidade; mas ainda, Brasil.
As velas içadas nas belas caravelas desbravadoras nos presentearam com uma herança de ventos errantes. O leme tem passado há quase dois séculos de mão em mão e a navegação continua atrapalhada. Em plena era moderna bradamos à revelia nossa independência. Não sabemos o que somos: escravos ou livres. Não sabemos se estamos ainda sob o estalo do açoite e sob o aperto da gargalheira, ou se já vivemos sob a brisa do mar e o barulho cálido de nossos rios.
Hoje, se algum desbravador chegasse por aqui escreveria uma carta com apenas 7 letras ou, se preferirem, com apenas 8 caracteres: socorro!