*publicado no jornal Gazeta da Lagoinha, Agosto/2017
"O futebol brasileiro passa por um momento
intrigante. Se em 2003 o rapper D2 cantava que estava “à procura da batida
perfeita”, hoje nos gramados os clubes e respectivos técnicos estão à procura
não da batida, mas “à procura da partida perfeita”. Houve um tempo que se
buscava o jogador perfeito, o craque, a revelação. Buscava-se um conjunto de
jogadores qualificados que além de uma partida próxima de perfeita trariam
títulos e resultados expressivos para seus clubes.
Esses jogadores desapareceram do
Brasil no século XXI. O motivo é pauta para outra discussão!
Antes não era “o momento”, “o
lampejo”, mas uma sequência, o casamento entre uma expressiva qualidade
individual e o entrosamento do time em campo. Atrelado a um calendário
desproporcional com o que se pode esperar em termos de qualidade de jogos, o
futebol brasileiro vive um período de transição entre, o que foi um dia
excepcional e o péssimo.
Antes do encontro entre Atlético e Corinthians
cantei uma pedra quando me perguntaram o que eu esperava dessa partida. Minha
resposta: se o Atlético jogar como vem jogando desde o final da era Levir Culpi
perde o jogo. Se Rogério Micale conseguisse uma mágica chamada “conserto do
time em dias” o Galo poderia então conquistar sua vitória. Não conseguiu a
mágica...
Os paulistas dominaram o jogo em
pleno Mineirão. Analisando o individual, em termos de elenco, eles estavam, até
certo ponto, equilibrados com o Atlético. Mas o Corinthians apresentou um
futebol compacto aliado à vontade e a um verdadeiro espírito de equipe.
Vale lembrar que o discurso raça, no futebol moderno, virou mera
obrigação. Vontade? Mera obrigação. Aliás, não faltou raça ao Galo neste jogo.
Mas faltou o principal: jogar com espírito de equipe. O Atlético pode até ter esse
espírito fora de campo, mas dentro de campo não tem. Não se vê entrosamento,
movimentação, voluntariedade para dar opção de jogada. Ao menos, não se vê do
time todo. E isso, até aqui, em todas as competições.
Chega a ser tão frenética a busca
pela tal partida perfeita que há um debate generalizado no futebol brasileiro sobre
propor jogo ou esperar o adversário propor. “Para você propor precisa saber
preencher espaços; isso se dá com muito treinamento, e isso não consigo em
pouco tempo”, disse Rogério Micale. “Não podemos jogar em linha muito baixa,
mas, jogar em linha muito alta não casa com elenco que nós temos”, completou. E
Micale está certo.
Mas, enquanto o Galo busca esse
equilíbrio das linhas, o jogo contra os bolivianos do Jorge Wilstermann bate à
porta e cobra um plano de urgência. A necessidade de reverter o placar no
Mineirão para seguir em frente na Libertadores exigirá do Atlético algo muito
superior ao que vem apresentando em campo nesta temporada.
O Cruzeiro leva uma situação parecida
em termos de competições. Tem a chance clara do penta da Copa do Brasil e no
Brasileiro vai figurando sem chance de disputa pelo título. Fato é que Mano
Menezes também tenta encontrar na Raposa a fórmula certa de se jogar e, vejo um
pouco seu esquema chegar próximo ao do Corinthians. Contudo, o Cruzeiro tem, a
exemplo do Atlético, se apresentado ao longo da temporada de forma irregular.
Podemos ainda, ao observar Galo e
Raposa, constatar que essa irregularidade muitas vezes é suprida pelo estilo
copa, pela fórmula mata-mata. Acaba-se mascarando uma situação, pois, no
mata-mata, vence quem foi melhor no tal momento! Podemos pensar: como um time
que pode ser campeão da Libertadores e outro, que pode ser campeão da Copa do
Brasil, não figuram entre os candidatos ao título num campeonato de pontos
corridos? Seria o calendário? Seria elenco desqualificado? Seria falta de
vontade e empenho?
O que nos apresentam no Brasil num
geral: poucos jogos que cativam nossa atenção. Enquanto os craques e gênios
estão hibernando em terras tupiniquins, nós, amantes do futebol, nos
contentamos com a sensação do nosso futebol desta era: todos estão correndo
contra o tempo “à procura da partida perfeita”!
Até a próxima!"