Eu acreditava que o campeão da
Libertadores da América e o atual líder do Brasileiro avançariam para as
quartas-de-final da Copa do Brasil. Não por torcida ou clubismo. Mas pelas
características e qualidades de ambas as equipes.
Não foi o que ocorreu. São coisas do
futebol...Atlético e Cruzeiro poderiam fazer um duelo histórico pela
competição. Mas, o Galo esbarrou mais uma vez no Botafogo. O Cruzeiro amargou
uma eliminação para o Flamengo daquelas cruéis para o torcedor: nos minutos
finais do jogo. Contudo, abrirei mão de analisar ambos os times nesta edição
para falar de outro assunto.
Caro amigo e amiga, confesso que, no
outro dia, na manhã pós-eliminação das equipes, algo despertou minha atenção.
Era quinta-feira e, nos meus afazeres, eu observava o movimento nas ruas de
Belo Horizonte. Notei então que muitos atleticanos e cruzeirenses saíram com as
camisas de seus clubes. Notei a expressão de orgulho e paixão do torcedor de
ambos os times mesmo sofrendo ainda com o clima da eliminação. E então comecei fitar
neste personagem: o torcedor.
Veja este dado: até a 16ª rodada do
Brasileirão 2013 série A, a ocupação da torcida nos estádios chegou à apenas
38% num geral (Fonte: globoesporte.com). Aqui em Minas, o Atlético tem média de
ocupação de 47% e Cruzeiro de 52%. A ausência do torcedor e da festa tem
chamado atenção de muitos. Na TV, por questões de ângulos e posicionamento de
câmera para transmissão, percebe-se muitos espaços vazios. Principalmente nos
estádios maiores, como o Mineirão.
A verdade é que chegou a hora dos
articuladores do futebol fomentarem que o torcedor é seu maior cliente. Tudo virou
negócio? Então, que se trate o torcedor como cliente, mas com excelência. O que
seria de Atlético e Cruzeiro sem sua torcida? O que seria do futebol sem as
bandeiras, os foguetes, os cantos, as lágrimas e os sorrisos?
É preciso tirar o torcedor da poltrona
(como diria Renato Aragão, o “Zé Poltrona”) e valorizar e viabilizar sua
presença no espetáculo. Trazer o público de volta para o espetáculo! Mas ele
tem que se sentir convidado e muito bem servido nesta festa. Não é o que está
ocorrendo...
Preço alto dos ingressos, alimentação
ruim e custo alto, mobilidade ruim, falta de segurança, falta de
infra-estrutura são alguns dos fatores que tem tirado a vontade do torcedor de
ir ao estádio.
Outra situação é que, aquele personagem
apaixonado, que lotava qualquer jogo, não está acostumado a ver apenas uma
única partida. Não. Ele quer ir a vários. Quer ver de perto a campanha do seu
time. Mas hoje está complicado bancar financeiramente essa proeza. Ou será que
estão conduzindo o futebol para uma massa elitizada pronta para assumir essa
função? Não acredito. O futebol é um espaço onde todas as classes se unem e se
confraternizam. Um verdadeiro exercício de convivência e até mesmo de
cidadania. Mas podem estar perdendo essa ferramenta por descuido e soberba.
Pensemos ainda essa comparação: aos
poucos os campinhos de várzeas estão desaparecendo, as “peladas” agora só em
tapetes sintéticos e pagos. Raramente se vê uma peladinha em ruas, em campinhos
de terra, gramados, hoje na maioria das vezes apenas em locais fechados e
alugados onde se tenta ainda jogar futebol. Antes, por exemplo, nas quadras
internas do Conjunto IAPI, num sábado ou domingo se você acordasse 9h da manhã
teria de esperar para jogar! Isso porque a cobiçada e querida “peladinha” já
estava a todo vapor! Ao chegar à quadra você ficava na famosa “de fora” até
chegar a vez de seu time jogar. Bons tempos...
Hoje não é mais assim. Talvez por
isso tantos profissionais maltratando a bola...
Tal situação está chegando agora na
ida ao estádio. Os preços do tal “padrão FIFA” imperam, mas, esqueceram um
pouco do padrão “qualidade no atendimento ao cliente”! Está hora de investir mais
no projeto sócio-torcedor, nas parcerias e de chamar o público de volta para os
estádios.
Perdemos o charme dos barraqueiros que
ficavam do lado de fora do Mineirão, da resenha nos banquinhos das barracas.
Hoje sequer encontramos um prato tradicionalmente mineiro, o feijão tropeiro,
tão cheiroso e saboroso como aquele de um passado recente.
Contudo, creio que ainda há tempo para
rever tudo. Para devolver esse apaixonante e centenário jogo com bola ao seu
verdadeiro amante: o torcedor e a torcedora! Caso isso não aconteça, corremos o
risco do futebol num futuro breve perder sua magia e encanto e ser apenas mais
um enlatado distribuído como produto de primeira.
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