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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Diamantes com rubi se foram

Dezesseis e trinta de uma quinta. A tarde chamando a noite que se achegava devagar. Mas algo não estava no roteiro da vida. Algo que representava o descaso, a ignorância, a soberba, a luxúria estava para ditar, mais uma vez, sua regra.
De repente o mundo de oitocentas acabou. O apocalipse chegou ali primeiro. Primeiro que na Lagoinha, no Sion, na Serra, no Leblon, no Mangabeiras. Não deu tempo de proteger a todos. Não deu tempo de salvar diamantes com uma pedrinha de rubi. Eram diamantes com coração. Não deu tempo. Vários diamantes com rubi se foram...
Culpados: a natureza, o terremoto, marte, a lua, o mar, os rios, a lama. Segundo culpado: quem? Fato é que Bento Rodrigues se foi e junto com ele sonhos transformados em lama.
Não havia sequer um aviso de perigo. Não havia um plano. Não havia nada. Havia uma mulher, um homem, uma criança, havia o vovô e a vovó, havia o pai e a mãe. Havia. Não há mais. Não em Bento.
Uma tragédia debaixo de nossos olhos e a solução esteve e está na justiça falha e esdrúxula dos homens. Amontoaram famílias e pessoas de bem. Porque não trouxeram para capital, para acomodações no Ouro Minas, Othon Palace e tantos outros. É pedir muito...
Enquanto estupendos estudiosos se preocupam em criar novos tipos de seres humanos e regras, a vida básica se deteriora como farelo em nossas mãos. Onde está o legislativo, o judiciário e o executivo? Onde está o voto de Bento Rodrigues. Eu sei: no lixo. Assim como o meu. Onde estamos nós neste cenário trágico e cômico?
Menininha de Bento Rodrigues, nos perdoe por não termos conseguido lhe proteger. Por não estarmos todos juntos fazendo uma corrente humana para lhe resgatar. Por deixar essa lama maldita, que suja nosso mundo diariamente, levar você de seu papai e sua mamãe. A gente nem tentou. Mas, reze por nós para que um dia estejamos em paz como você está agora.

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