Tecnicamente falando...
Flávio Domênico
Um personagem do futebol vem me
instigando mais atenção: o técnico. Sabemos que eles são considerados pais,
psicólogos, professores, orientadores, estrategistas e outros singelos e
peculiares atributos.
Em Belo Horizonte, Cuca levou o
Atlético a encantar e conquistar a América com um futebol ofensivo,
principalmente na conquista da Libertadores. Marcelo Oliveira levou o Cruzeiro
ao título Brasileiro. Cuca foi para a China e deu lugar a Paulo Autuori
enquanto Marcelo segue firme na Raposa. Autuori é professor de educação física
e Marcelo Oliveira ex-jogador. Ambos comandantes com qualidades diferentes.
Estilos diferentes. No futebol pré-copa, treinadores do Galo e da Raposa seguem
dando esperança de um bom ano.
Mas, fato é que, o treinador precisa
ter bons olhos e ouvidos pacientes. É cobrado ferozmente pelo seu torcedor. E
não é para menos: é o gestor do jogo. É o batimento cardíaco do elenco em campo.
Seu papel: fazer com que seus onze atletas superem em técnica e tática seus
oponentes! Fazer com que o jogador consiga enxergar e desejar a possibilidade
do título. Fazer com que o elenco se arme e se supere nos gramados.
E...claro...fazer o gol.
Interessante é que eles não podem
esquecer um singelo detalhe: quase todo o torcedor e torcedora é um técnico!
Estão aos gritos nas arquibancadas e nas poltronas. O treinador é uma figura mística, enigmática e
necessária. Seu papel é sim, um dos mais importantes.
Vejamos Josep Guardiola i Sala.
Nítido que pesquisou muito esta função. Aperfeiçoou seu trabalho. Superou-se e
se inventou novamente para ser um dos maiores treinadores da história do
futebol moderno. Com apenas 43 anos, Pep Guardiola dispensa descrição de seu
trabalho primoroso no Barcelona (inclusive como jogador) e agora à frente do
alemão, Bayer de Munique.
Guardiola, assim como a maioria dos
técnicos dos grandes clubes europeus, são táticos e conseguem mudar a
estratégia do time ao longo do jogo. Não são óbvios. Não inventam muito. Não improvisam
tanto. Tem um elenco apurado, técnico e milionário em suas mãos e os fazem
jogar. Movimentação e muita qualidade nos toques de bola. Esboçam o caminho do
gol!
Para não me estender muito em
exemplos, volto em Pep Guardiola. Nítida evolução do futebol do Bayern desde
sua chegada. Alguma mágica? Não! Estudo e dedicação. Conhecimento profundo do
assunto. Não que os treinadores brasileiros não sejam estudiosos ou
comprometidos, mas falta algo...
Autuori, por exemplo, completou 4
meses à frente do Atlético. Ninguém ainda conseguiu entender como joga o Galo.
Qual é o esquema de jogo. Em certos momentos tenho a impressão que o elenco
entra em campo e deixa acontecer. Lateral afunila para o meio. Não vai à linha
de fundo. Raramente cruza uma bola. E o que me incomoda no Galo: praticamente o
mesmo desenho do esquema Cuca. Não dá para pensar que Atlético e Cruzeiro (ou
qualquer outro clube do Brasil) tenham hoje qualidade de conjunto para
enfrentar um time de ponta da Europa. Não. Não dá.
Carecem aos técnicos de todo Brasil
valorizarem mais a posse de bola em seus times. Ter toques ofensivos e
objetivos. Prestar atenção em suas substituições e, principalmente, ter na
manga alterações táticas durante a partida. Não dá para insistir anos num
esquema único, onde não há variação. É dar oportunidade para o adversário matar
o jogo. Continuo a destacar a incrível falta de movimentação dos elencos no
Brasil.
Falta também ao atleta de futebol
treinar mais os fundamentos básicos do esporte que ele se propôs a jogar. Cobrança
de falta, escanteio, chutes a gol, troca de passes. O futebol brasileiro passa
por um momento estranho. Muito dinheiro público gasto em obras da Copa do
Mundo. O povo um tanto distante dos estádios. E aí, caro leitor, cara leitora,
dói o coração, principalmente para quem conheceu o futebol antes do Brasil se
oferecer para sediar a FIFA.
Assim, além de recuperar a imagem do
futebol, o técnico hoje, talvez inconscientemente, exerça a sagrada função de
guardião do esporte mais amado do brasileiro. Sua tarefa é árdua. É preciso
estudar e reciclar. Talvez almejar a humildade de reconhecer que, no Brasil, o
futebol está devendo em termos de conjunto. De alegria! E muito. Agora, se
falta arrojo ao técnico, a técnica dos jogadores tem carecido de lapidação. Vamos
torcer para que a bola mágica e alegre do Brasil não estacione no tempo e na
história!
Um comentário:
Perfeita sua leitura sobre os técnicos, jogadores e o futebol de modo geral.
Treinadores de hoje, que atuam no Brasil, estão muito aquém dos treinadores lá de fora. Quanto ao "pepe autuori"... É melhor ficar calado!
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